Nos últimos 15 anos, a China se consolidou como o país estrangeiro mais importante para o Brasil em termos econômicos. Desde 2009, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, investindo mais de 60 Bilhões de Dólares até 2020. No contexto dos investimentos chineses no Brasil, a região Nordeste tem se tornado um dos principais centros, recebendo 17% desse valor até agora. Grandes empresas chinesas, como a Huawei e a BYD, estão fornecendo produtos e serviços e expandindo seus investimentos no Nordeste, inclusive com a BYD assumindo a ex-fábrica da Ford em Camaçari e anunciando a ampliação do investimento no Brasil para 5 bilhões de reais. No entanto, esses interesses chineses no Brasil despertam dúvidas em relação à crescente dependência econômica que a nação está tendo da China, com quase um terço das exportações brasileiras tendo como destino o país asiático. Neste vídeo, vamos entender como a China está comprando o nordeste brasileiro e quais motivos explicam tantos investimentos na região a curto prazo.
A expansão do soft Power chinês
Para entender como a China tem projetado sua influência pelo planeta nos últimos tempos, é necessário voltarmos para 1978, quando Deng Xiaoping assumiu o poder na China e promoveu profundas reformas econômicas e sociais, tirando mais de 800 milhões de pessoas da pobreza e transformando a China em uma das economias de mercado que mais crescem em todo o mundo. No século XX, a nação chinesa entrou no século XXI com o propósito de expansão econômica e cresceu em média quase 10% ao ano, consolidando-se globalmente como a segunda maior potência econômica em 2010.
Inicialmente, a política chinesa em relação à expansão do seu soft Power ainda se mantinha incerta, já que o país asiático passava por algumas mudanças internas de expansionismo econômico e ampliação do seu modelo de desenvolvimento. Isso permitiu que a China dobrasse seu PIB entre os anos de 2002 e 2006, tornando-se desde então o centro mundial da manufatura, graças à disponibilidade de mão-de-obra barata e um dos maiores mercados consumidores do mundo.
A consolidação da política externa da China, visando expandir seu soft Power, surgiu pela primeira vez como propósito da nação em 2007, quando o então presidente do país, Hu Jintao, reconheceu a importância do renascimento da cultura chinesa pelo mundo e estabeleceu princípios essenciais para a imagem da China como uma nação de ascensão pacífica e harmoniosa. A partir de 2014, o presidente chinês, Xi Jinping, lançou a base para o protótipo que colocaria a China como um ator essencial na ordem mundial, promovendo para outras nações, especialmente do Sul Global, o modelo de ascensão chinesa através de fundos de desenvolvimento, empregos estatais, empréstimos e pelo Banco de Desenvolvimento dos BRICS.
Estima-se que a China destine mais de 10 Bilhões de Dólares para projetos em outros países, objetivando manter sua imagem como um parceiro estratégico único. Enormes projetos relacionados à infraestrutura na Ásia e na África estão sendo financiados pela China, como a iniciativa Belt and Road, popularmente conhecida como Nova Rota da Seda, que conectará o comércio euroasiático por meio de infraestrutura terrestre e naval, beneficiando mais de 140 países. Além disso, a China tem apoiado inúmeros projetos de infraestrutura ao redor do mundo, estimando-se que tenha gastado mais de 1 trilhão de dólares na última década, apoiando cerca de 3.000 projetos.
Como resultado do esforço chinês em se popularizar mundialmente como um aliado econômico e parceiro para diversos países, a China construiu um soft Power bastante consolidado. Segundo uma pesquisa realizada pela empresa de pesquisa de opinião Gallup, em 2019, a média de aprovação global da China superou a dos Estados Unidos, com 34% dos entrevistados aprovando a China, enquanto apenas 31% aprovaram os Estados Unidos. Essa foi a maior aprovação da China desde 2009, o que demonstra a eficácia do modelo chinês de investir bilhões em outros países como forma de potencializar seu soft Power.
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Os investimentos chineses no Nordeste brasileiro
Os investimentos chineses no Nordeste brasileiro surgem em conformidade com o interesse da China pelo Brasil. Em menos de duas décadas, o Brasil se tornou o alvo preferencial dos investimentos chineses na América Latina, e desde 2009, a China é a maior parceira comercial do Brasil. No ano passado, as exportações brasileiras para a China ultrapassaram os 100 Bilhões de Dólares, com destaque para produtos como soja, minério de ferro e petróleo.
Atualmente, os Estados Unidos representam apenas 11% das exportações brasileiras, enquanto a China é responsável por incríveis 27%. Isso representa um aumento no comércio bilateral de 37 vezes nos últimos 23 anos. Como resultado, 20 dos 27 estados brasileiros têm a China como principal parceiro comercial.
Outro fator determinante para os investimentos chineses no Nordeste brasileiro é a necessidade da China por parcerias estratégicas. Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, a China é o segundo país mais populoso do mundo, e precisa de recursos alimentícios e energéticos para sustentar sua mega população. Apesar de ser uma grande produtora agrícola, responsável por alimentar 1/5 da população mundial, a demanda alimentar e energética da nação tem crescido. Entre 2002 e 2020, o índice de autossuficiência alimentar do país caiu de 94% para apenas 65%. No setor energético, aproximadamente 70% do petróleo consumido na China é importado, principalmente de grandes mercados produtores como o Brasil.
Diante disso, não surpreende o fato de que o nordeste brasileiro seja um dos principais destinos dos investimentos chineses. A região oferece um grande potencial em diversos setores, como carros elétricos e geração de energias renováveis. Empresas chinesas, como a CGN Energy, estão investindo no Brasil para a produção local de carros elétricos, e a BYD é líder mundial em volume de vendas de carros elétricos, superando até mesmo a Tesla. A BYD anunciou recentemente um aumento de investimento para o Brasil, saltando de 3 bilhões de reais para 5,5 bilhões de reais em seu projeto no nordeste, o que gerará mais de 5.000 empregos diretos e indiretos nos próximos anos.
Entre 2010 e 2020, o Brasil recebeu 47% do total investido pela China na América do Sul, direcionando grande parte das empresas e indústrias brasileiras, principalmente do nordeste, para a China. Empresas de tecnologia chinesas, como a Huawei e a ZTE, estão negociando e fornecendo diversos serviços relacionados à instalação de redes de fibra ótica na região. Empresas de vigilância, como a Dahua e a Hikvision, já fornecem equipamentos e sistemas de monitoramento para os governos de Pernambuco e Bahia.
No entanto, é válido afirmar que essa expansão de investimentos chineses também traz alguns projetos polêmicos. Um exemplo disso é o polêmico projeto chinês que visa construir uma cidade do futuro no litoral norte da Paraíba, com um orçamento de 9 trilhões de reais. Esse projeto está sendo investigado pelo Ministério Público do Estado, devido a suspeitas de irregularidades.
Conclusão
O nordeste brasileiro surge como um dos principais destinos de investimentos chineses na América Latina, oferecendo um grande potencial em diversos setores, como carros elétricos, geração de energias renováveis e desenvolvimento económico. A China consegue expandir seu soft Power e buscar alternativas para a sobrevivência de seu modelo de crescimento a longo prazo, enquanto o Brasil se beneficia dos investimentos e parcerias estratégicas com a China.
É importante destacar que, apesar dos benefícios econômicos, é necessário estar atento a possíveis irregularidades e garantir que os investimentos chineses sejam benéficos para a população e para o desenvolvimento sustentável do nordeste brasileiro.